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Afrânio Vital em Compasso de Espera

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Afrânio Vital em Compasso de Espera Afrânio Vital da Silva é dos homens mais inteligentes que eu conheço. Não bastasse sua cultura e conhecimento técnico de cinema, é também um grande crítico de arte, capaz de revirar uma obra do avesso sob diversas leituras.   No Brasil é pecado “falarmos bem” do outro. A não ser, claro, em situações de politicagem servil e interesse mútuo. Logo, alguns leitores devem estar se perguntando por que a afirmação contundente de que Afrânio é tão relevante. Explico: o  Estranho Encontro  sempre existiu para desvendar aspectos ocultos e mal explicados do cinema brasileiro. E, aos 66 anos, o diretor e intelectual negro continua vivendo à sombra do mundo que o desconhece.  Afrânio não dá aulas, não filma há 30 anos, não escreve livros, não passa seu conhecimento a ninguém. A não ser que o procurem em seu apartamento em plena Rua do Riachuelo, no coração da Lapa carioca. Então rejuvenesce, os olhos brilham. Acende um cigarro

Cantiga Sua, Sá de Miranda

Comigo me desavim, Sou posto em todo perigo, Não posso viver comigo Nem posso fugir de mim. Com dor da gente fugia Antes que esta assim crescesse, Agora já fugiria De mim, se de mim pudesse. Que meio espero ou que fim  Do vão trabalho que sigo, Pois que trago a mim comigo Tamanho inimigo de mim?

Filme do Dia: Berlim, Sinfonia de uma Metrópole (1927), Walter Ruttman

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Berlim, Sinfonia de uma Metrópole ( Berlin - Die Sinfonie der Grosstadt , Alemanha, 1927). Direção: Walter Ruttman. Rot. Original: Carl Mayer. Fotografia: Karl Freund. Um dia na maior cidade alemã. O trem que se aproximada e apresenta uma visão privilegiada de sua periferia. O dia que amanhece e a movimentação que, aos poucos, se inicia. Primeiro, solitários jornaleiros. Depois crianças indo à escola, o comércio abrindo suas portas, a movimentação de uma avançada tecnologia industrial. As atividades culturais e esportivas. Embora, provavelmente tenha realizado esse filme com a pretensão de ser uma ode à cidade moderna, o que hoje mais se destaca são os vários planos que descrevem a crescente produção serializada capitalista. Assim, o tom tributário acaba obscurecido pelo tédio coletivo, seja das pessoas que entram e saem dos metrôs ou da produção serial de pães e litros de leite e um certo tom lúdico – como, quando galhofamente, utiliza-se da montagem para realizar associações en
Quem retrata, a si mesmo se retrata. Por isso, o importante não é o modelo mas o pintor, e o retrato só vale o que o pintor valer, nem um átomo a mais. José Saramago, Manual de Pintura e Caligrafia

Meu Caro Diário, 28/02/2005

segundo dia em São Paulo. Sentado em um banco do Conjunto Nacional. Triste ao ter que me despedir de mil pratas de um fundo de investimento tão arduamente erigido – é bem verdade que metade delas depositada há alguns dias. Bolando estratégias para transportar as coisas para a kit mobiliada na Heitor Penteado ao qual o Orlando dera um toque. E pensando a respeito da USP, (...). Pela primeira vez me parece que irei realmente morar só em minha vida. E logo aqui, em São Paulo. Merda é ter que voltar a trabalhar algum dia. Merda é acabar a bolsa e ter que segurar as pontas novamente. Merda é a necessária reinvenção de si mesmo sempre para poder suportar o rojão que é a vida. No avião vim lendo as memórias de Gore Vidal – adoro memórias, fazer o que? – e constatando que foi-se o tempo que eu tinha realmente medo de avião. Hoje quase surtei de desconfiança com o casal de velhos proprietários da kit decadente onde pretendo descansar minhas chuteiras pelos próximos seis meses.

Filme do Dia: Frankenstein (1931), James Whale

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Frankenstein (EUA, 1931). Direção: James Whale. Rot. Adaptado: Garret Forth, Francis Edward Faragoh & Richard Schayer, a partir do romance homônimo de Mary Shelley. Fotografia: Arthur Edeson. Música: Bernhard Kaun. Montagem: Clarence Kolster. Dir. de arte: Charles D. Hall. Cenografia: Herman Rosse. Com: Colin Clive, Mae Clarke, John Boles, Boris Karloff, Edward Van Sloan, Frederick Kerr, Dwight Frye, Lionel Belmore, Marilyn Harris.             Henry Frankestein (Clive) rouba um cadáver do cemitério e com o apoio de seu ajudante, Fritz (Frye), consegue um cérebro para trazer de volta a vida o cadáver. A criatura (Karloff) ganha vida,  porém o que Frankenstein fica sabendo é que o cérebro usado foi o de um criminoso. O monstro foge do castelo de Frankenstein. Esse celebra suas bodas com Elizabeth (Clarke). Enquanto isso, o monstro que jogara uma garotinha (Harris) no lago próximo de sua casa,  surge inesperadamente diante de Elizabeth no dia de seu casamento, deixando-a em es

“Cinema Needs Good Images”: An Interview with Cinematographer Vilmos Zsigmond

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Vilmos Zsigmond, ASC was given the “ Pierre Angénieux Excellens in Cinematography”  award at this year’s Cannes Film Festival. It was a fitting tribute to the 83-year-old director of photography, who chronicled the events of the 1956 Hungarian revolution before leaving his country soon afterwards. In 1962 he became a naturalized citizen of the United States, settling in Los Angeles. During the ’70s Zsigmond established himself as one of the world’s great cinematographers, working on Robert Altman’s McCabe & Mrs. Miller  and  The Long Goodbye , John Boorman’s Deliverance , and Steven Spielberg’s  The Sugarland Express  and Close Encounters of the Third Kind , for which he won an Academy Award. He also worked with Michael Cimino on  The Deer Hunter  and  Heaven’s Gate . He had multiple collaborations with Brian De Palma:  Obsession ,  Blow Out ,  Bonfire of the Vanities and most recently  The Black Dahlia . Zsigmond also shot three films with Woody Allen:  Melinda and Melind
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Andrzej Zulawski, Andrzej Wajda , Agnieszka Holland , Roman Polanski , Ryszard Bugajski, Krzyztof Kieslowski em Cannes, 1990. Foto do arquivo de Wajda.

Filme do Dia: Aeg maha (1984), Priit Pärn

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Aeg Maha (URSS, 1984). Direção e Rot. Original: Priit Pärn. Fotografia: Janno Pöldma. Música: Olav Ehala. Trata-se, de certa forma, da mesma vinculação entre música e criação dos desenhos clássicos (tais como a série Silly Simphonies , da Disney, dos anos 1930), só que aqui, evidentemente radicalizada por uma livre associação de idéias evocativa da psicodelia. Um gato acorda e vê seu ritmo e sua relação com os horários acabar por deixá-lo completamente atabalhoado. O radicalismo das associações, muitas delas verdadeiramente criativas, acaba sendo cansativo por si só. O tema musical jazzístico, que gira em círculos, sugere improvisação e é elemento fundamental para a animação que abdica em parte do seu radicalismo (pela mesma via que optara O Gabinete do Dr.Caligari ) justificando todo o amontoado de referências desconexas como a situação-limite vivenciada por seu protagonista, ao retornar a situação inicial de tensão vivenciada pelo mesmo. Tallinfilm. 9 minutos e 5 segundos.