Filme do Dia: O Espelho (1975), Andrei Tarkovski


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OEspelho (Zerkalo, URSS, 1975). Direção: Andrei Tarkovski. Rot. Original: Aleksandr Misharin & Andrei Tarkovski. Fotografia: Georgi Rerberg. Música: Eduard Artemiev. Montagem: Lyudmila Feiginova. Dir. de arte: Nikolai Dvigubski. Yelena Fomina. Com: Margarita Terekhova, Ignat Daniltsev, Larisa Tarkovskaya, Alla Demidova, Anatoli Solonitsyn, Yuri Nazarov, Oleg Yankovski, Filipp Yankovski.
Ao mesmo tempo que visita a esposa Natalya (Terekhova), um homem relembra a mãe em sua juventude,  enquanto especula sobre o futuro do filho Ignat (Daniltsev), que pretende levar consigo, para salvá-lo do que acredita ser o excesso de complacência pequeno-burguesa da mãe. Também relembra episódios de sua juventude, como num campo de treinamento militar ou quando uma casa próxima sofreu um incêndio.

Menos preocupado em narrar uma história em uma estrutura convencional que apresentar um painel (grandemente autobiográfico) em que memória, história e espiritualidade se interpenetram, o filme resulta denso e, não raramente, perturbador e obscuro. Para tanto, o cineasta utiliza-se de um diversidade de elementos que vão de um narrador-protagonista nunca presente em cena, das poesias de seu pai, da  extrema fluidez da câmera e de uma rigorosa iluminação até uma impecável direção de atores e imagens de arquivo da guerra civil espanhola e do conflito Rússia e China. Da mesma forma a utilização de fotografia em p&b e cores, o tom pastoral com que descreve a natureza, a música de Bach, Purcell e Pergolesi e a utilização dos mesmos atores para papéis que encontram-se em momentos diversos da trajetória da vida do narrador, ajudam a compor uma miscelânea que  trafega entre o sonho e a realidade, em que torna-se peça-chave a utilização pouco acadêmica de flashbacks e flashforwards. Impregnado de uma nostalgia pela infância perdida de características tipicamente edipianas (não por acaso a ex-mulher do protagonista é a mesma atriz que vive as recordações da mãe), não há como não destacar a influência de Bergman, ainda que posta a serviço de uma estética grandemente idiossincrática. Suas composições, de grande força pictórica e influência evidente da pintura, aproximam-no, por ess viés, do contemporâneo cineasta armeno Paradjanov, ainda que o uso que cada um faça desse diálogo seja  distinto. O tom autobiográfico, ainda fica mais evidente, em uma passagem em que na parede da casa do narrador percebe-se um cartaz de Andrei Rublev, personagem de um filme homônimo (1969). Em um prólogo, antes dos créditos, uma mulher cura um adolescente de sua gagueira em um programa de TV. Mosfilm. 108 minutos.

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