Filme do Dia: Persepolis (2007), Vincent Parronaud & Marjane Satrapi


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Persepolis (França/EUA, 2007). Direção: Vincent Parronaud & Marjane Satrapi. Rot. Adaptado: Vincent Parronaud baseado nos quadrinhos e no romance de Marjane Satrapi. Música: Olivier Bernet. Montagem: Stéphane Roche. Dir. de arte: Marina Musy.

Marjane Satrapi é uma garota que na sua infância é surpreendida pelos eventos políticos que provocam uma reviravolta no seu país: a Revolução Iraniana. Tendo um tio sido preso e morto e com a crescente repressão no país, os pais, ocidentalizados, a enviam para uma temporada na Áustria, onde Marjane (voz de Chiara Mastroianni) passa por dificuldades com relação à moradia e namoro (um dos rapazes pelos quais se apaixona se descobre homossexual, o outro é flagrado a traindo). Sem rumo, Marjane passa a morar nas ruas e pega uma bronquite. Retorna ao Irã e aos pais, assim como aos conselhos da avó (voz de Danielle Darieux) em estado depressivo. Envolvida com um homem que acha atraente, ela acaba se casa com ele para driblar a excessiva repressão aos costumes “ocidentalizados” pelos novos donos do poder. Porém, a relação não dura mais que um ano. Marjane decide pelo divórcio e, numa das festas clandestinas que participa um dos rapazes morre ao fugir da repressão policial. Marjane decide partir novamente para a Europa, agora a França. A mãe (voz de Catherine Deneauve) lhe faz prometer não mais retornar ao Irã.

Esse longa-metragem de animação, profundamente autobiográfico (o nome do personagem é a da própria autora das obras que inspiraram o filme e também co-diretora), explora um filão que vem sendo valorizado contemporaneamente na animação, o do universo adulto, reservando dentro desse universo um lugar efetivo para a política (caso igualmente de Valsa com Bashir, do israelense Ari Folman). O resultado final é menos efetivo por apresentar algo que não se saiba sobre a história recente iraniana por parte de alguém medianamente informado, do que por traçar uma perspectiva particular através do quais tais fatos são apresentados. O que é mais interessante no filme é justamente a filtragem de todos os eventos históricos vivenciados por uma criança ou jovem mulher da elite iraniana ocidentalizada e com simpatias pelo comunismo. Nesse sentido, o enfoque na perspectiva individual faz com que o secundarize qualquer motivo de exploração dos elementos mais espetaculares potencialmente em questão (morte, guerra, etc.), algo que fica bastante demarcado quando Marjane retruca às indagações curiosas de seus novos amigos europeus se ela havia visto muitas mortes quando se encontrava no Irã. Que não se busque também qualquer tentativa de contemporização ou distanciamento com relação aos eventos narrados. O retrato do Irã pós-revolução não apresenta nenhum dado atraente mínimo que seja e seu caráter de repressão é descrito como incomensuravelmente mais amplo do que nos tempos do regime do Xá Reza Pahlevi. Porém tampouco existe uma contraposição maniqueísta entre a experiência em seu próprio país e a européia que se insinua em filmes que lidam com situações semelhantes, como em Antes do Anoitecer (2000) com relação a um cubano que passa a viver nos Estados Unidos. É justamente no exílio que a protagonista vivenciará seus piores momentos, inclusive. Talvez uma contraposição interessante a ser pensada com relação ao filme israelense seja o fato de que os traços aqui se aproximam de uma animação voltada para o público infantil mais convencional ao contrário dos traços soturnos e extremamente realistas de Valsa com Bashir. Realizado predominantemente em preto&branco que são as  memórias da protagonista que se encontra no salão de um aeroporto, onde as imagens passam a ser em cores, a narrativa talvez se ressinta um pouco da falta de qualquer motivação dramática no eixo contemporâneo que não seja o de servir de ponte para as lembranças que compõem o que há de verdadeiramente importante no filme. Sem evidentemente buscar um humor fácil ou mesmo o humor, talvez a única cena hilariante de todo o filme seja o da decisão de Marjane de abandonar a depressão, ao som da canção que celebrizou Rocky III (1982), Eye of the Tiger e a personagem macaqueando o modo de Sylvester Stallone se movimentar durante os treinos. Sean Penn, Gena Rowlands e Iggy Pop dublaram vozes de personagens na versão americana. Prêmio do Júri no Festival de Cannes e do público na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. 2.4.7 Films/The Kennedy Marshall Co./France 3 Cinéma/French Connections Animations/Diaphana Films/Celluloid Dreams/Sony Pictures Classics/Sofica Europacorp/Soficinéma/CNC/Région Ile-de-France/Fondation GAN pour le Cinéma/Procirep/Angoa-Agicoa para Diaphane Films/Sony Pictures Classics. 95 minutos.

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