Filme do Dia: Darling, A Que Amou Demais (1965), John Schlesinger


Resultado de imagem para darling john schlesinger poster


Darling, A Que Amou Demais (Darling, Reino Unido, 1965). Direção: John Schelsinger. Rot. Original: Frederic Raphael, a partir do argumento dele próprio, Schelsinger & Joseph Janni. Fotografia: Kenneth Higgins. Música: John Dankworth. Montagem: Jim Clark. Dir. de arte: Ray Simm. Cenografia: David Ffolkes. Figurinos: Julie Harris. Com: Julie Christie, Dirk Bogarde, Laurence Harvey, José Luis de Villalonga, Roland Curram, Basil Henson, Helen Lindsay, Carlo Palmucci.
Jovem modelo de talento  e casada com um marido inexpressivo, Diana Scott (Christie) envolve-se com o charmoso jornalista cultural Robert Gold (Bogarde). Pouco tempo depois, já morando juntos, ela mantém uma relação  com o playboy inconseqüente Miles Brand (Harvey) viajando com ele para Paris. Ao retornar a Londres, é escorraçada por Robert como prostituta. Decide viajar para a Itália com o amigo homossexual Malcolm (Curram). Lá despeta a paixão do jovem Curzio (Palmucci) assim como de seu pai, o Príncipe Cesare della Romita (Villalonga), com quem se casa. Trancafiada em uma casa de luxo e sem ter o que fazer após ausências prolongadas do marido, Diana decide voltar a encontrar Robert em Londres. Propõe voltar a morar com ele, mas esse se encontra decidido a ir ensinar nos Estados Unidos e a deixa no aeroporto.
Nunca o glamour e o jet set emergente envolvendo o mundo da publicidade, do cinema e da moda foi tão impiedosamente observado pelo cinema como na segunda metade dos anos 1960, em filmes como o brasileiro Bebel, Garota Propaganda (1968). Aqui, uma ironia bem mais sutil trespassa todo o filme. Embora a visão de Schelsinger desse mundo possa ser um tanto cínica e desapaixonada, ele não faz nenhuma tentativa melodramática de julgar a personagem. Essa é que se julga a partir de uma narrativa de si própria, tão ao gosto do cinema britânico da época, a partir do próprio modelo literário também adaptado com sucesso para o cinema de As Aventuras de Tom Jones (1963). Porém, aqui existem algumas diferenças. Não existe qualquer tentativa de fazer com que a figura ocasional de narradora de Christie, em seu primeiro papel de destaque, articule uma coerência de onde e para quem exatamente fala – caso existisse algo do tipo esse certamente seria menos ela do que Robert Gold, como o próprio enredo chega a esboçar próximo do final. E tampouco essa figura principal é masculina. Como nas suas colegas do cinema moderno, Diana é expressão da angústia de um mundo crescentemente sem sentido. Porém, se nos filmes de Antonioni ou Godard tal angústia parece expressar o  choque de uma sensibilidade que o consegue em um mundo crescentemente coisificado aqui nada parece existir para além do próprio vazio e tédio de sua heroína. A ambiguidade do filme reside em que ao mesmo tempo que  expõe o quão vazio é esse mundo de incessante erotismo, flerte e hedonismo, não deixa de expor através de seu elegante trabalho de câmera, profundidade de câmera e ângulos, assim como sua fotografia em preto&branco, a elegante casca que encobre tal vazio. Algo que fica demarcado na alegria da imagem do outdoor com o sorriso de Diana em contradição com sua própria infelicidade não apenas no dia-a-dia, quanto na própria sessão que o gerou. Como é comum em tais exercícios de ironia o cinema que é alvo é o de maior apelo comercial, representado aqui por um arremedo grotesco das produções de terror dos estúdios Hammer. Apesar de compartilhar com outras produções britânicas da época da visível influência da Nouvelle Vague em seu estilo, tal como os filmes de Richard Lester, sua acidez parece menos receptiva ao sentimentalismo do que a de filmes como Um Caminho para Dois (1967), de Stanley Donen. O estilo de vida moderno de uma alta e liberal classe média, aqui entrevisto numa festa orgíaca, seria mais e melhor explorado em um filme posterior do cineasta, Domingo Maldito (1971), sem a dimensão de culpa associada a religião. Sua referência, mesmo que discreta, a uma vida homossexual longe do habitual tratamento sensacionalista que lhe era reservado pelo cinema até então soa tão avançada quanto o triângulo amoroso desenvolvido pela produção dos idos da década seguinte. Joseph Janni Prod./Vic Films Prod./Appia Films Lmtd. para Anglo-Amalgamated Film Prod. 125 minutos.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar