The Film Handbook#50: Otto Preminger

Dana Andrews, Clifton Webb e Gene Tierney no vívido e engenhoso filme noir Laura de Preminger


Otto Preminger
Nascimento: 05/12/1906, Viena, Áustria
Morte: 23/04/1986, Nova York, EUA
Carreira (como diretor): 1931-80

Ainda que os filmes de Otto Preminger sejam tão diversos como irregulares, eles compartilham, em sua maior parte uma objetividade detalhada em suas atitudes em relação aos personagens e suas questões morais. Mesmo em vários filmes considerados controversos quando de seus lançamentos o tom prosaico e observacional oblitera tendências potencialmente melodramáticas. 

Filho de um advogado, Preminger estudou interpretação com Max Reinhardt antes de se tornar um bem sucedido diretor no teatro austríaco. Também realizaria um filme, Die Grosse Liebe, em seu país natal, porém foi somente após mudar para os Estados Unidos, em 1935, que sua carreira no cinema tomou rumo firme. Um punhado de filmes realizados para a Fox no final dos anos 30 - insignificantes comédias B e musicais - fizeram pouco para abrilhantar sua carreira, mas em 1944 ele assumiu Laura>1, de Mamoulian, desfrutando seu primeiro grande sucesso. Um misterioso assassinato, no qual o detetive se apaixona pelo retrato da presumida vítima, somente para subitamente encontra-la viva e bem, o filme é uma análise sutil de personagens vividamente desenhados de uma variedade de mudanças de pontos de vistas. A própria Laura existe primordialmente na mente tanto do investigador quanto da testemunha que interroga. De forma semelhante, o melhor dos subsequentes filmes de suspense de Preminger para a Fox (Anjo ou Demônio/Fallen Angel, A Ladra/Whirlpool, Passos na Noite/Where the Sidewalk Ends) diziam respeito a obsessões e neuroses, culminando em Alma em Pânico/Angel Face>2, realizado para a RKO no qual o comportamento de uma garota inocente esconde um complexo de Elektra assassino que resulta na morte de seus pais, de seu amante e dela própria.

Em 1953 Preminger se voltou para a produção independente com Ingênua Até Certo Ponto/The Moon is Blue, uma sofrível comédia romântica, importada da Broadway, que provocou controvérsia com seu uso de palavras então censuráveis como virgem e grávida. Após um agradável western (O Rio das Almas Perdidas), o gosto de Preminger por material provocativo manifestava-se  ele próprio nos musicais negros Carmen Jones e Porgy&Bess; O Homem do Braço de Ouro/The Man with the Golden Arm (no qual um baterista luta contra sua dependência de drogas; e Seu Último Comando/The Court Martial of Billy Mitchell (sobre a incompetência militar). Igualmente ambiciosos mas menos satisfatoriamente realizadas foram suas adaptações de Santa Joana/Saint Joan de Shaw e Bom Dia, Tristeza/Bonjour Tristesse (outra análise sobre a antipatia destrutiva de uma garota adolescente pela amante de seu pai viúvo), ambos estrelados pela garota com charme masculino e protégé de Preminger, Jean Seberg. O estilo arrojado de Preminger foi observado em sua melhor forma em Anatomia de um Crime/Anatomy of a Murder>3 um drama de suspense de julgamento soberbamente detalhado, no qual o advogado de uma pequena cidade, James Stewart, defende um soldado acusado de ter matado o homem que, ele alega, estuprou sua esposa. A inclinação de Preminger pelos planos-sequencia e o movimento de câmera (mais do que cortes e planos de reação em diálogos) aqui servem tanto para iluminar as ambiguidades cruciais das personagens, assim como facilitam uma avaliação objetiva da mecânica do processo legal. Foi o primeiro e melhor das quatro investigações épicas de sérias questões sócio-políticas: Exodus reconta a luta  para estabelecer a Palestina como morada pelos judeus, centrando-se no nacionalismo; Tenpestade sobre Washington/Advise and Consent>4, sobre as intrigas e campanhas para desacreditar candidatos que emergem pela necessidade de um novo Secretário de Estado, examinou os processos eleitorais da democracia. O Cardeal/The Cardinal  lida com as possibilidades da fé religiosa em um mundo assaltado por nazistas, a Ku Klux Klan, morte e intolerância. Sombrios, equilibrados e inteligentes, os filmes ocasionalmente revelaram uma conservadora mentalidade mediana, possuindo uma clareza, infelizmente ausente na maior parte da obra de Preminger após o longo e, em sua maior parte, rotineiro drama de guerra A Primeira Vitória/In Harm's Way. Bunny Lake Desapareceu/Bunny Lake is Missing foi um não muito crível mistério envolvendo sequestro; O Incerto Amanhã/Hurry Sundown um drama excessivo sobre racismo no Sul Profundo; Skidoo Se Faz a Dois/Skidoo, uma embaraçosa sátira aos hippies; Diz-me Que Me Amas/Tell Me That You Love Me, Junie Moon, uma narrativa cativante de três desajustados com cicatrizes emocionais e físicas; Amigo é Para Essas Coisas/Such Good Friends, uma comédia de humor negro sobre doença e adultério; O Fator Humano/The Human Factor>5, um irregular, mas por vezes, estranhamente comovente versão do romance de Grahan Greene sobre sobre um agente da inteligência britânica cujas atividades traiçoeiras resultaram em sua deserção para a Rússia.

Nos últimos anos de sua carreira, Preminger frequentemente se contentou com atitudes da moda e explosões ressonantes de fantasia estilizada; ainda que a primeira característica possa ser dita igualmente de suas obras polêmicas iniciais, em sua maior parte uma histeria maquinada foi mantida à distância pelo modo restritivo e equilíbrio visual que levou às telas.

Cronologia
Ainda que Preminger tenha cruzado sua trajetória com a de Lubitsch (assumindo dois de seus filmes), Mamoulian e Wilder (em cujo Inferno 17 atuou), a trajetória de sua eclética carreira e ocasional insipidez de seu estilo podem sugerir uma comparação mais frutífera com Huston. Sua objetividade detalhista encontra paralelo em Buñuel. Seu senso de que todos tem suas razões não é muito distinto do de Renoir.

Destaques
1. Laura, EUA, 1944 c/Dana Andrews, Gene Tierney, Clifton Webb

2. Alma em Pânico, EUA, 1952 c/Jean Simmons, Robert Mitchum, Herbert Marshall

3. Anatomia de um Crime, EUA, 1959 c/James Stewart, Lee Remick, Ben Gazzara, George C. Scott

4. Tempestada Sobre Washington, EUA, 1962 c/Henry Fonda, Charles Laughton, Don Murray, Lew Ayres

5. O Fator Humano, Reino Unido, 1979 c/Nicol Williamson, Iman, Richard Attenbourough

Fonte: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 227-9.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar