Filme do Dia: O Amigo Americano (1977), Wim Wenders

O Amigo Americano (Der Amerikanische Freund, Al. Ocidental/França, 1977). Direção: Wim Wenders. Rot. Adaptado: Wim Wenders, a partir do romance Ripley’s Game, de Patricia Highsmith. Fotografia: Robby Müller. Música: Jürgen Knieper. Montagem: Peter Pryzgodda. Dir. de arte: Heidi Lüdi & Toni Lüdi. Figurinos: Isolde Nist. Com: Bruno Ganz, Dennis Hopper, Lisa Kreuzer, Gerard Blain, Nicholas Ray, Samuel Fuller, Peter Lilienthal, Daniel Schmid, Jean Eustache, Lou Castel, Andreas Dedecke.
          O pacato Jonathan Zimmerman (Ganz), que trabalha realizando molduras se envolve com os crimes encomendados pelo mafioso Minot (Blain), por indicação de Tom Ripley (Hopper), que acredita que ninguém jamais desconfiará de uma pessoa como ele. Tendo sabido que se encontra em estado terminal, consideração comprovada pelos exames médicos que efetua em Paris às custas de Minot, e desejando deixar algo para a mulher Marianne (Kreuzer) e o filho Daniel, Zimmerman comete o primeiro crime com êxito no metrô da cidade. Marianne se irrita com seus mistérios e sabe que algo anda errado. Zimmerman embarca em um trem disposto a cometer o segundo crime, mas de último hora algo sai errado e ele apenas consegue efetuar o mesmo com a ajuda de seu amigo americano, Tom Ripley, que surge inesperadamente. Zimmerman, que se encontrava disposto a dividir a gorda recompensa com Ripley ouve uma negativa desse, que por sua vez pede que ele o auxilie em outra perigosa missão. Zimmerman concorda, Marianne surge no meio da ação. Ripley explode uma ambulância e é abandonado numa praia deserta por Zimmerman, que morre pouco após.
        No mesmo ano que Herzog realiza seu primeiro filme nos Estados Unidos (Stroszek), Wenders filma pela segunda vez por lá, ainda que numa parcela relativamente modesta em relação às suas locações europeias. Seus planos iniciais, com Nicholas Ray saltando de um táxi com o World Trade Center ao fundo, são ao mesmo tempo evocativos do clima atmosférico do cinema noir atualizada por Wenders (que, aliás permeia todo o filme e talvez seja seu maior atrativo) e reencenados em enquadramento bastante próximo no posterior Um Filme para Nick. Direcionando o seu admirável senso de timing para uma trama que dialoga com o cinema de gênero de uma maneira ausente em suas produções anteriores, o filme tem como principal atração o seu fino senso de composição dos enquadramentos das cidades pelas quais a trama se desenrola (Nova York, Paris, Hamburgo e Munique), inspirado na pintura de Edward Hopper. E se a opção por uma trama que ressalta a ação física havia sido aquela de outra adaptação anterior com o personagem, O Sol por Testemunha, aqui ocorre quase que o extremo inverso – distanciamento do que é narrado e um tom de melancolia de cunho existencial que deslocam a própria ação criminal para segundo plano. Alguns poucos planos, como o do tom excessivamente avermelhado que encobre todo o céu, produzido certamente pelo uso de filtros, antecipa o estilo da produção pós-moderna francesa dos anos 80. Próximo de seu final, no entanto, o filme parece encavalar uma série de ações de forma quase abertamente paródica, parecendo indicar uma tendência não apenas para soluções semelhantes em Um Filme para Nick como um uso cada vez mais indiscriminado eme boa parte de sua produção menos inspirada posterior. Se nos filmes anteriores de Wenders, a referência a realizadores admirados se dava através de artifícios como manchetes de jornal, aqui não apenas inúmeros realizadores surgem em papéis menores ou pontas (de Nicholas Ray, que surge em seu loft, local onde será filmado boa parte do filme posterior de Wenders a Jean Eustache, passando por Samuel Fueller e o próprio Wenders) como um ator-diretor (Hopper) tem papel de destaque. Bavaria Film/Filmverlag der Autoren/Les Films du Losange/Road Movies Filmproduktion/WDR/Wim Wenders Prod. para Filmverlag der Autoren. 125 minutos.

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