Filme do Dia: Muito Barulho por Nada (1993), Kenneth Brannagh

Muito Barulho Por Nada (Much Ado About Nothing, Reino Unido, 1993) Direção:  Kenneth Branagh. Rot.Adaptado: Kenneth Branagh baseado em  peça de William Shakespeare. Fotografia:  Roger Lanser. Música: Patrick Doyle. Montagem: Andrew Marcus. Com: Richard Briers, Kate Beckinsale, Imelda Staunton, Jimmy Yuill, Brian Blessed, Andy Hockley, Chris Barnes, Conrad Nelson, Phyllida Law, Emma Thompson, Alex Lowe, Denzel Washington, Keanu Reeves, Richard Clifford, Gerard Horan, Robert Sean Leonard, Kenneth Branagh, Patrick Doyle, Michael Keaton, Ben Elton, Edward Jewesbury.
       Beatrice (Thompson) conta histórias para os amigos e parentes no campo,  numa espécie de convescote, quando um mensageiro (Lower) declara que o celébre e honrado Don Pedro de Aragão (Washigton) e seus cavaleiros se aproximam da vila de Messina. Após uma ansiosa preparação por parte de homens e mulheres, com banho e vestimentas, os cavaleiros são recepcionados pelo governador de Messina, Senhor Leonato (Briers), pai de Beatrice. Enquanto o jovem imberbe Conde Cláudio de Florença (Leonard) se apaixona imediatamente pela sobrinha de Leonato, Hero (Beckinsale), sendo prontamente correspondido, Beatrice e Benedick (Brannagh) continuam com suas rixas verbais, única forma de se justificarem para si próprios e para os outros que não se amam. A relação entre Beatrice e Benedick se estreita aos poucos, no entanto,  após o plano de Pedro, Cláudio e Leonato de comentarem sobre o amor de Beatrice por Benedick para que o último escute e passe a acreditar que é correspondido, o mesmo acontecendo com Beatrice, através das artimanhas de suas primas Hero e Ursula (Law). Durante o baile de máscaras, Dom Pedro toma a mão da jovem Hero em nome de Cláudio. O casamento é marcado. Porém o irmão de Pedro,  Don John, o bastardo, invejoso da posição  de prestígio cada vez maior de Cláudio junto ao irmão, tece uma infame armadilha, chamando Cláudio e Pedro para observarem Hero se entregar a um homem na sacada do seu quarto - na verdade Borachio (Horan) com a criada de Hero, Margaret (Staunton). Furioso e sentindo sua honra manchada, Cláudio resolver nada saber, deixando para fazer suas revelações no momento do casamento, quando joga Hero ao chão e a injuria na frente de todos. Inicialmente a ponto de acreditar nos cavaleiros, Leonato se revolta contra a filha, mas é levado a acreditar na sua inocência por Beatrice e pelo Frei Francis (Yuill), que realizaria a cerimônia. O frei aconselha-os a dizerem que Hero morreu, para quando a verdade seja esclarecida, Cláudio se dê conta da injustiça que cometeu. Boracchio bebâdo, comenta com um amigo todo o plano de Don John, sendo surpreendido pelos vigilantes que trabalham para Leonato, sendo entregues a seu chefe, Dogberry (Keaton), que faz com que Boracchio testemunhe tudo, sendo que o que mais o choca no final das contas é xingado pelo amigo de Boracchio. Revelada a farsa, Benedick surpreende Cláudio, que não ouvira a ira de Leonato e seu irmão Antonio (Blessed), achando que sua fúria fosse apenas uma reação insana por causa da morte da filha, e afirmando que ele terá que ajustar contas com ele, se não se redimir perante a família de Hero. Escutando da própria voz de Boracchio toda a trama infame, e sabendo da fuga de Don John,  Cláudio se desespera, e pergunta o que poderá fazer para retratar seu erro, ao que Leonato lhe concede uma segunda chance, para que o amor que seria dirigido a Hero o seja para uma prima sua, em tudo semelhante a mesma, casando-se com ela. Cláudio presta um tributo a memória de Hero no cemitério. No momento de encontrar a noiva, percebe ser Hero. Benedick e Beatrice aproveitam o momento para também se unirem. Quando todos os preparativos estão prontos, homens trazem o fugitivo Don John, ao que Benedick afirma que um castigo merecido deve ser aplicado a ele, porém somente depois do momento de alegria e celebração que será o casamento.
        Partindo do universo dos versos de Shakespeare: “não suspirem mais damas, os homens sempre foram impostores/um pé no mar/e outro na praia/nunca constantes em nada/Então não suspirem mais/e deixem-nos partir/E sintam-se felizes e bonitas/ transformando todos os seus lamentos/ num grito de alegria, alegria!”  apresentados antes de qualquer cena do filme, Brannagh realizou uma tocante, ainda que irregular, ode ao amor e a vida. Sentindo-se longe da rigidez de uma encenação de uma obra de maior peso do bardo, Brannagh, consegue unir um tom sério ao puramente farsesco e irônico (sobretudo no personagem do chefe de guarda vivido brilhantemente por Keaton) e um Shakespeare trancendental, poético e etéreo mas, ao mesmo tempo, sensual e profundamente carnal (sendo a seqüência inicial  com os preparativos para a recepção dos cavaleiros apresentando um festivo banho coletivo em que se destacam os agitados corpos nus de homens e mulheres o maior exemplo). Geralmente subestimado pelo tom despretensioso frente a outras adaptações de Shakespeare realizadas pelo cineasta como Henrique V (1989) e Hamlet (1996), talvez seja o filme de Brannagh - ao lado do também considerado “menor” Para o Resto de Nossas Vidas (1992) -  que mais transmita vida e sentimento, mesmo com a falta de equilíbrio de um elenco que conta tanto com grandes interpretações de Brannagh, Thompson e Briers, como com sofríveis como as  de Sean Leonard, Reeves, Washigton e Beckinsale. Entre as curiosidades: a presença de um Don Pedro negro e do compositor da trilha-sonora Doyle, vivendo o músico e cantor de Messina, Baltazar. Com elegante trabalho de câmera e duas canções tradicionais (uma delas em cima dos versos do prológo) de um lirismo de tirar o folêgo. O tom farsesco e assumidamente teatral  e não naturalista do elenco é outro de seus pontos fortes. Entre os bons momentos se encontra aquele em que Benedick e Beatrice descobrem que são correspondidos no seu amor e a imagem, em câmera lenta,  une a comemoração de  Benedick chapinhando em uma fonte a de Beatrice se divertindo em um balanço. Duas seqüências são inesquecíveis: a chegada dos cavaleiros, filmada em planos curtos e ritmo próximo do videoclip, e a comemoração final, em que a dança e congregação de todos se confunde com o movimento saracoteante da câmera e a beleza agridoce da canção evocando a nostalgia de um passado pré-capitalista, de sólidos valores morais, para sempre perdido. BBC/Renaissencee/Samuel Goldwyn. 111 minutos.


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