Mas compreendam-me bem! Entendo por tradição a grande tradição, a história dos estilos. Para amar essa tradição é preciso um grande amor pela vida. A burguesia não ama a vida: ela é proprietária dela. É isso que lhe confere seu cinismo, sua vulgaridade, sua falta de respeito real por uma tradição que ela concebe como tradição dos privilégios e brasões. (...) Às vezes, passeando em Roma, defronto com obras de demolição. Vejo velhas casas serem destruídas, velhos jardins aplainados, para, em seu lugar, se construírem horríveis prédios neocapitalistas.  Pois bem, os promotores da especulação imobiliária em Roma (...) se dizem cristãos e tradicionalistas (...) e assistem sem franzir minimamente a testa aos horríveis danos causados por suas escavadoras. Eu, que sou um subversivo, um inimigo da tradição, segundo eles, quando me encontro, não digo em frente a um monumento célebre, ou a uma bela praça, mas em frente a um velho muro que traz na sua humilde textura, nos poros de seus adornos carcomidos, as marcas de um estilo do passado, meus olhos se enchem de lágrimas: lágrimas de nostalgia e de cólera.

(Pier Paolo Pasolini)

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