Filme do Dia: "We Live in Two Worlds" (1937), Alberto Cavalcanti

We Live in Two Worlds (Reino Unido/Suiça, 1937). Direção: Alberto Cavalcanti. Rot. Original: J. B. Priestley.
O próprio Priestley narra esse curta documental que parte do princípio de que vivemos em dois mundos. O das comunidades nacionais, aparentemente destituídos de conflitos, e o da comunidade internacional. A partir daí inexplicavelmente parte para a Suíça enquanto exemplificação desse mundo internacional. Priestley surge em dois momentos, e sua segunda aparição igualmente demarca a divisão entre uma primeira parte, centrada sobretudo na dimensão mais folclórica, tradicional e rural suíça e uma segunda que apresenta o progresso econômico representado por indústrias, mas sobretudo pelos meios de transporte e comunicação. Num momento em que a tensão bélica já desponta no horizonte europeu, seu idealismo, ao acreditar que as comunicações aproximam o que as fronteiras físicas demarcam e afastam, soa um tanto simplista. Talvez mais compreensível seja a verdadeira apologia que é feita ao país, já que foi evidentemente co-financiado por capital suíço. Cavalcanti faz uso de uma montagem mais que dinâmica e algumas soluções visuais também procuram pegar carona na ideia do dinamismo, algo presente inclusive na mais bucólica primeira parte. Assim a câmera segue em boa parte dos meios de transporte apresentados. O momento em que um homem atravessa com dificuldade um córrego carregando um pedaço de madeira sobre os ombros representa bem a reapropriação da dimensão épico-romântica presente em Flaherty em um recorte mais prosaico e inserido dentro de um contexto mais amplo, onde não há espaço para “personagens”. Aqui, como nas produções da escola documental britânica em geral, são mais os “temas” que orientam a seleção das imagens. A pós-sincronização do som, a trilha musical triunfante e a encenação de fatos da vida cotidiana direcionados para a câmera dão, em boa medida, uma empostação artificiosa, que somente será abalada de fato com o surgimento do Free Cinema, na década de 1950. GPO Film Unit. 13 minutos e 21 segundos.


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