Filme do Dia: "A Arte de Amar...Bem" (1969), Fernando de Barros

A Arte de Amar...Bem (Brasil, 1969). Direção: Fernando de Barros. Rot. Adaptado: Fernando de Barros, Roberto Freire & Maurício Rittner, baseado na peça de Silveira Sampaio. Fotografia: Rudolf Icsey. Música: Rogério Duprat. Montagem: Máximo Barro. Cenografia: Hugo di Pace & Charles J.M. Marchand.  Figurinos: Maria Augusta Teixeira. Com: Eva Wilma, Raul Cortez, Luíza de Franco, Newton Prado, Otelo Zeloni, Consuelo Leandro, Plínio Marcos, John Herbert, Karin Rodrigues, Íris Bruzzi, Walter Forster.
A Inconveniência de Ser Esposa. Inês (Vilma) é uma jovem classe média alta que ultimamente tem-se interessado por artes plásticas e descobre que o marido, Roberto (Prado), fotográfo de modelos, decidiu viver com sua  melhor amiga, a modelo Paula (Franco). Inês vai até a casa do marido de Paula, buscar apoio de Ronaldo (Cortez). Inês tenta seduzir Ronaldo, que não demonstra o menor interesse, porém decidem fingir que também vivem um relacionamento e hospedam-se na mesma pousada em que se encontram Roberto e Paula. Em pouco tempo, os casais voltam a sua formação tradicional. A Honestidade de Mentir. Cremilda (Leandro) decide que o aniversário de casamento com  Oscar (Zeloni) deve ser comemorado em grande estilo e de forma pouco convencional. Ela decide ir numa boate de strip-tease, que o marido insiste em demovê-la, porque é cliente habitual dela. Após ter conseguido despistar a mulher ao ser reconhecido por inúmeros freqüentadores e trabalhadores da boate, Oscar acaba sendo delatado pelo motorista que os leva de volta para casa. A Garçoniére do Meu Marido. Gardênia (Bruzzi) descobre que o marido, Iseu (Herbert), possui uma garçoniére. Ela decide visitar o local e veste-se com as roupas sensuais do guarda-roupa, tornando-se “amante” do marido. Iseu acaba entrando em crise, porque acha que possui uma dupla personalidade, em casa e na garçoniére, porém acaba acatando os apelos de Gardênia e desfazendo o “consórcio” do local com outros amigos.
Essa comédia, adaptada de peça que fez sucesso à época, hoje soa extremamente datada e a fragilidade do roteiro, amparado em situações típicas de piadas ligeiras de revista, não ajuda. Mescla de comédia de costumes no estilo da “chanchada” com leves pitadas de erotismo que seriam o apanágio das pornochanchadas da década seguinte, o filme detém-se nas mesmas frivolidades que compõem o enredo do primeiro episódio de As Cariocas, não por acaso dirigido pelo mesmo Barros – embora o episódio em questão ao menos apresente uma estrutura narrativa mais sólida e menos patética do que aqui. A completa ausência de conteúdo social, dramático ou mesmo de verosimilitude no que é apresentado – principalmente no que diz respeito a facilidade com que o marido convence a esposa no segundo episódio – acaba apenas reservando um interesse antropológico para a sua representação da classe média, voluntariamente ou não apresentada em toda sua tacanhez, assim como fora ridicularizada por Jabor pouco antes, de forma mais explícita, com seu Opinião Pública. A “qualidade” da produção (filme realizado em cores como poucos à época) e seu distanciamente de qualquer elemento da cultura nacional faz, por outro lado, com que se distancie da chanchada e se aproxime de uma tentativa de reprodução do cinema industrial americano. Mesmo que o filme por vezes ridicularize a dupla moral burguesa quanto à sexualidade, dividida entre os valores familiares e os eróticos, não deixa de se contaminar por ela. Nesse sentido, o melhor episódio acaba sendo o último, que consegue brincar de uma forma um pouco mais subversiva com elementos dessa dupla moral. Alguns detalhes que tornam o filme curioso nos dias de hoje,  como mera crônica de costumes de uma época e de uma classe são o momento no qual o marido explica para a esposa que nas boates apenas as mulheres fazer stripper e a própria cena erótica de um casal na boate, cujo visual explicitamente kitsch foi diretamente influenciado pelo então recente sucesso da produção internacional Barbarella. Wallfilmes. 90 minutos.


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