Filme do Dia: A Alegria (2011), de Marina Meliande & Felipe Bragança



A Alegria (Brasil, 2010). Direção: Marina Meliande & Felipe Bragança. Rot. Original: Felipe Bragança. Fotografia: Andrea Capella. Música: Mary Fê. Montagem: Marina Meliande. Dir. de arte: Gustavo Bragança. Com: Tainá Medina, Clara Barbieri, Flora Dias, Bernardo Barcelos, Junior Moura, Maria Gladys.
Luíza (Medina) é uma adolescente designada para cuidar do primo João que recebeu um tiro no pé em um sítio Queimados, na Baixada Fluminense. A mãe de Luíza vai se juntar a mãe (Gladys) de João, que tem certeza que o filho ainda se encontra vivo. Enquanto isso, Luíza vivencia o momento de descoberta do amor, encontrando um namorado na escola e vivenciando aventuras com dois outros colegas de escola, sonhando um dia ocupar a cidade.
Mesmo que a intenção manifestada com o filme por seus realizadores afirme uma luta contra a nostalgia e um desejo de potência de afirmação vital, o seu produto final se encontrará, de certo modo, demasiado imbricado em contradições que se encontram longe de sequer esboçarem algo semelhante à pretensão inicial. Como afirmar que o filme se arvora contra a nostalgia quando a todo momento surgem referências superficiais seja a um ativismo político semelhante ao das rebeliões estudantis francesas do maio de 68 seja ao Cinema Marginal brasileiro como a estética do abjeto, do vômito, além da incorporação de um de seus símbolos (Maria Gladys)? Por outro lado seu desejo de afirmação da vida acaba se restringindo ao plano da subjetividade adolescente de sua protagonista em pleno descolamento de qualquer realidade social concreta – contra quem ou o que luta a garota que chega ensanguentada em casa e recebe o apoio moral do pai? Trata-se de uma luta ainda mais abstrata, guardada as devidas proporções, do que a protagonista de Argila (1940), empreendia décadas atrás. Àquela, ao menos, reproduzia ou ao menos tentava reproduzir o ideário de um regime. Aqui se luta contra um poder policial que não possui cara ou articulação, pretensamente tão metafísico quanto os filmes de Apichatpong Weerasethakul, influência confessa, almejam ser. E a “ocupação” da cidade, deslocada de sua conexão social, como o próprio filme em escala mais ampla, acaba se tornando mero sinônimo de capricho adolescente, como o de encher uma fonte no centro do Rio de sabão em pó.  O resultado final portanto, acaba sendo demasiado pretensioso para soar efetivo. Existem momentos visualmente inspirados, alguns incluídos apenas por assim serem, como os do porto do Rio de Janeiro, outros mais afinados com a trama, como a que simboliza o rito de passagem para o mundo adulto vivenciado por sua protagonista, que consegue atravessar paredes, ao contrário dos seus amigos, ao final, ou ainda suas enigmáticas cenas iniciais, mas o filme, em sua inconsistência generalizada, parece acabar sendo presa de cacoetes do próprio universo adolescente que retrata, porém sem conseguir provavelmente nem seduzir ao público adolescente, com sua morosidade, nem tampouco  a um  púlbico mais cultivado e adulto. Arissas Multimidia/Duas Mariola. 106 minutos.

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